Morei em uma rua de lá chamada São Domingos, era uma tranquilidade. Lá brincava de ralar os joelhos e perder as argolas, as correntes... tomava muitas palmadas. Me consola saber que os ourives mentem muito.
Brincava muito nos terrenos baldios, as mãozinhas cheias daquelas continhas duras e brancas de oxalá. Com elas brincávamos de comida, fazíamos colares.
Lá acreditava que quando a gente mudas
se, a casa ia junto. Quando ouvia falar que alguém mudou ou ia mudar, ficava muito preocupada com a casa, afinal teria que ser um caminhão gigante, ou um bate-estaca pra fazer a mudança da casa.
D.Marlene era a nossa vizinha de parede. Ainda bebê ficava com ela quando meu pai ia pro plantão no Posto de Saúde do Dendezeiros( até hoje o posto tem aquele mesmo azulejo amarelinho pastel em todas as paredes). O
marido dela era motorista de ônibus e bebia muito. Davam muitas festas.
Certa vez
derrubaram a parede da casa pra aumentar o salão de dançakkkk
Depois se mudaram pro fim de linha do São Caetano.
Em frente, à esquerda, morava D. Preta. Fazia um cuscuz de milho molhado com côco delicioso. Era a mãe de Litinho, de Jorge e de Bizu. Jorge era o mais velho e morava nos alagados, quando ainda era de palafitas. Litinho foi trabalhar na Petrobrás de Catu
Enaide era uma costureira de mão cheia. Ganhei dela uma fantasia de havaiana azul turquesa no carnaval e no natal um bolo de aniversário também azul. Quando cresci foi uma grande amiga pra mim, especial. Mudou-se pro Mont Serrat.
Todas as segunda-feiras impreterívelmente à tardinha vinham as baianas
paramentadas com as roupas engomadas e brancas, bem alvas e mulçumanas, com balaios na cabeça cheios de pipoca quentinha com pedaços de
côco. Lembro da minha canequinha cheia de pipoca. Também usava de prato meu vestidinho rodado engana-mamãe. Aos sábados o tabuleiro da baiana do acarajé ficava na esquina do prédio do Sr. José Garrido, o espanhol, uma tortura, por que eu comia um abará, mas sonhava em comer mais 10. Olha do lado esquerdo a esquina do prédio, na outra a casa de Odete, a professora da Escola Rui Barbosa, onde fiz o primário. Lá na Frente o muro da Leste
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Rua São Domingos de Gusmão, Baixa do Fiscal, Salvador-Ba¹. Atualmente sem os terrenos baldios |
D.Yayá, nossa vizinha de frente do Nº 13, fazia comida baiana pra nós. A comida era boa, mas bem melhor se fosse cozida antes das 10 horas da mãnha, depois disso sempre vinha uns fios de cabelos cortados, culpa da saborosa(a cachaça). Por isso eu gostava mais dos sorvetes(free-hair) que ganhava aos domingos, ela nunca bebia aos domingos. Mas, durante a semana era vezeira. Porém, Às 17 horas já estava reestabelicida da bebida, de banho tomado e perfumada esperandoTuca, o marido barbeiro.
Tuca era branco e Yayá era cafusa, ou mulata? Se tivessemos a facilidade fotográficas de hoje em dia, seria muito legal fotografá-los, ela sempre de batom vermelhoabobóra, cabelos anelados sempre bem cortadinhos. Claro. Pelo marido barbeiro. Uma ópera.
Ao final Tuca se recusou a
comer e morreu de inanição. Yayá bebeu mais e mais, ficou
inchada, muito inchada. Eu ajudei a cuidar dela e aí meu pai
me mandou pra João Amaro. Quando voltei ela já tinha morrido. Não tiveram filhos
Meu padrinho morou na casa onde D. Marlene, a esposa do motorista festeiro, morou. Morava com seu irmão, a mãe D. Carmem e a avó D. Julia que acreditava de verdade, que Silvio Santos morava no aparelho da televisão. Vejam que não é só criança que pensa fantasiosamente.
Eram muitos queridos meus vizinhos amados e até hoje apareço por lá dando um susto em em Dadá, D. Nenem e seu João.
Sai de lá por que depois que fui contratada como técnica em geologia pela CBPM e tinha que tomar ônibus lotado todo dia. E ainda era assaltada. Depois já na universidade painho ainda vivo e sempre as mesmas dificuldades
Morei em Nazaré enquanto ainda trabalhava e tranquei a universidade. Mas depois quando não teve mais jeito e tive que me dedicar em terminar o curso, fui pra residência universitária no Canela, em frente à Escola de Belas Artes, e de lá pra Alemanha. Comprei (ganhei)uma casa em João Amaro cheia de mangueiras pro avô da minha filha. Era um sonho dele morrer ir pra lá.Vendi a casa da Rua São Domingos de Gusmão.
E as invejosas diziam que eu era da Baixa do "Fiscola"²
Bom Domingo à todos.
¹Foto by Admilson Reis
²Fiscal de r#*wtf