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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Para fazer feio em sociedade_ Basta não ler as obras certas!

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omecemos com Shakespeare. Suas peças são cheias de tiradas engraçadas ou espirituosas. A maior parte delas está concentrada em sua peça mais famosa, Hamlet. Leia-a como quem resolve um caça-palavras, com um lápis na mão, para sublinhar as citações. Quando, no meio da happy-hour, alguém mentir deslavadamene, saia-se elegantemente com a frase ¨ as palavras sem o pensamento nunca chegam ao céu¨.  Quando um colega de escritório lhe pedir algum emprestado, vá de  ¨não faço empréstimos, para não correr o risco de perder o dinheiro e o amigo¨. Está na lista de conselhos que o personagem Polônio dá a seu filho Laertes. Decore todos. Eles são capazes de livrá-lo de boas encrencas, com elegância#. Em matéria de teatro, vale a penaconhecer também algo de tragédia grega. Basta ler Édipo Rei, de Sófocles. Além de ser a melhor obra do gênero, ajuda quando um psicanalista chato começa a falar de complexo de Édipo nas festas. Como você não será páreo para ele numa discussão sobre Freud, mude o assunto para a Grécia antiga.  Faça uma observação espirituosa: a de que Édipo Rei é a mais antiga história policial de todos os tempos. Acrescente que é uma das poucas peças policiais em que o assassino é o próprio detetive. Todos se espantarão.

               Romances do século passado: concentre-se em três. Madame Bovary, do fancês  Gustave Flaubert, O Primo Basílio, do português Eça de Queiróz, e Dom Casmurro, do brasileiro Machado de Assis. Todos falam do grande objeto de desejo do século XIX: a mulher do próximo. No terceiro não dá pra saber se a traição se consumou ou não. Tome cuidado apenas para não fazer observações sobre o charme da mulher casada perto da esposa do seu chefe _ ela poderá pensar que é uma cantada. Bom, pelo menos não quando ele estiver por perto. Em Dom Casmurro, ficou célebre a característica que Machado de Assis empresta a personagem central Capitu: ¨olhos de ressaca¨. Também é uma cantada e tanto. Deve ser dirigida, no entanto, a mulheres bem escolhidas. Ficou famoso o caso de uma socialite alagoana que, ao ouvir tal galanteio, respondeu: ¨Eu não bebo¨.



               Abortando Sartre _ De literatura russa, compre apenas um livro: Crime e Castigo,  de Dotoievski. Apesar de tida  por algums como sentimentalóide, a história de Raskolnikov é empolgante. Tema especial utilidade se você for mulher e quiser algo com aquele rapaz de gola rolê que estuda filosofia. Quando ele começar a falar sobre existencialismo, diga: ¨ Eu prefiro beber na fonte¨. Cite uns dois ou três trechos de Crime e Castigo e arremate: ¨Toda a literatura francesa do século XX jorra daí¨. Ele vai achá-la brilhante, com a vantagem adicional de que será abortado um papo chatíssimo sobre Sartre e quejandos. Chegamos, assim, ao século XX. Todo mundo adora citar Ulisses, de James Joyce, como a grande obra do período. Dê uma de erudito dizendo que leu e não gostou. Diante dos olhares surpresos, afirme que você concorda com a escritora inglesa Virginia  Woolf, que definiu Ulisses como um livro ¨ pretencioso, um tiro que saiu pela culatra¨. De Joyce, leia apenas Dublinenses. São contos belos, inteligíveis e curtos. Leia também  Lolita, de Nabokov, este sim o melhor texto escrito no século. Diga que, assim como o século XIX preferia as casadas,  o século XX é das ninfetas. Cite também A Metarmofose, do  checo Franz Kafka, a famosa história de um homem que vira barata. Impressione os convivas dizendo que é impossível pecisar em que inseto o personagem Gregor Samsa se transformou. Quem leu sabe que não há nenhuma menção a baratas no livro.
                Na literatura brasileira, além de Dom Casmurro, há outro livro fundamental: Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Leia Graciliano. É curto, maravilhosamente bem escrito e é a obra  mais bem realizada de todo um período nefasto da prosa brasileira: o do regionalismo. Quando alguém começar a citar  Fogo Morto, A Bagaçeira ou Menino de Engenho, diga que há mais substância nas digressões da cachorra Baleia do que em toda a vã filosofia sobre cacos e ossadas. De Guimarães Rosa,  não se arrisque com Grande Sertão: Veredas. Prefira os contos. Ou melhor, um conto: A Terceira Margem do Rio, que resume todos.  Ao discorrer sobre a história, não se esqueça de observar que Caetano Veloso e Milton Nascimento destroçaram essa obra-prima na música insuportável que leva o mesmo nome.

               Bordões _ Em poesia, leia apenas o essencialíssimo. Por exemplo, sonetos de Luís de Camões como ¨Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades¨ ou ¨Amor é fogo que arde sem se ver¨. Poupa alguns constrangimentos. Quando o cantor Renato Russo fez uma música sobre esse último poema de Camões, não foram poucos os que a saudaram como a melhor letra do ex-líder do Legião Urbana. Das Unanimidades Manuel Bandeira e carlos Drummond de Andrade, decore aqueles versos que viraram bordões, como ¨E agora, José?¨ ou ¨Vou-me embora pra Pasárgada¨. São frases que sempre pegam bem. Experimente entrar na sala do chefe no final do expediente e dizer: ¨Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do Rei¨. Ele certamente vai ficar intrigado, porque, como a maior parte das pessoas, seu chefe também não leu muita coisa, mas essa de Manoel Bandeira pode apostar que ele já ouviu em algum lugar. Se ele perguntar se Pasárgada é o nome de uma nova boate, talvez seja o caso de mudar mesmo de emprego.
               Essas são as regras básicas. Se você atravessar os catorze livros recomendados, tenha certeza de que já leu muito mais de que já leu muito mais do que  90% das pessoas que gravitam a seu redor. Gustave Flaubert, o genial escritor françês que criou Madame Bovary, escreveu, numa carta à namorada, que ¨já seríamos bastante inteligentes se chegássemos a conhecer bem três ou quatro livros¨. Pode ser até que você tome gosto pela coisa. Cada um dos escritores da lista é um universo fascinante. Mas aí já terá passado da fase do verniz cultural, e estará começando a adquirir cultura. Na vida profissional ou social, não há muita diferença entre uma coisa e outra. Mas você descobrirá que os clássicos que o ajudam em público podem tornar-se um grande prazer na intimidade.

Leia já!
Titulos básicos para brilhar em sociedade


ÉDIPO REI,
tragédia de Sófocles que integra a Trilogia Tebana ,Editora Jorge Zahar

HAMLET,
peça de William Shakespeare, Editora LPM

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES E AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER,
sonetos de Luís de Camões presentes no livro Lírica, Editora Cultriz


MADAME BOVARY,
romance de Gustave Flaubert, Ediouro


CRIME E CASTIGO, 
romance de Fiodor Dotoievski, Ediouro


O PRIMO BASÍLIO,
romance de Eça de Queiroz, Editora LPM


DOM CASMURRO,
romance de Machado de Assis. Editora Garnier


DUBLINENCES,
contos de James Joyce. Editora Civilização Brasileira


A METAMORFOSE,
novela de Franz Kafka. Compainha das Letras


VIDAS SECAS,
romance de Graciliano Ramos. Editora Record


A TERCEIRA MARGEM DO RIO,
conto de Guimarães Rosa que faz parte do volume Primeiras Estórias. Editora Nova Fronteira


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA,
poesia de Manuel Bandeira presente no livro Estrela da Vida Inteira. Editora Nova Fronteira


E AGORA, JOSÉ?
poesia de Carlos Drummond de Andrade que está no livro Antologia Poética. Editora Record


LOLITA,
romance de Vladimir Nabokov. Companhia das Letras¨

Como ganhar verniz _ Para não fazer feio em sociedade, não é preciso muita cultura _ basta ler as obras certas
Carlos Graieb e João Gabriel de Lima
18 de novembro, 1998

ps. sem ler as obras acima você  nunca vai se indagar: fora Capitu uma pobre inocente, e Dom Casmurro... um Otelo  brasileiro? E sem ler Schakespeare.. vc não vai saber quem é Otelo
#mais aqui sobre o Sir
           




Elul

Que mês hein! Pra mim tbm teve  tentativas de maldades miúdas, porq o assassinato do americano foi terrível. Não, ele não foi pro céu na hor...